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São Francisco de Sales e a superação
da violência |
São
Francisco de Sales é o santo da não-violência.
Por não violência entende-se a recusa
de qualquer atitude, postura ou instrumento violento
para obter algum propósito. A “não-violência
para os cristãos não é um mero
comportamento tático, mas um modo de ser
da pessoa, uma atitude de quem está tão
convicto do amor de Deus e do seu poder, que não
tem medo de enfrentar o mal somente com as armas
do amor e da verdade” (BENTO XVI, Angelus
18/02/07). São Francisco de Sales destacou-se
pela mansidão, que não era uma ternura
frágil, mas uma atitude valente e corajosa
para superar a violência em todos os âmbitos
das relações de sua sociedade, criando,
a partir de sua figura, uma cultura da paz, fundado
na justiça e na retidão. Por isso,
foi chamado pelos seus contemporâneos de “autor
da paz” . Para ele, “os homens fazem
mais pelo amor e caridade que pela violência
e severidade”.
Sua espiritualidade, centrada no amor divino, não
admite agressão contra si mesmo ou contra
o outro. Francisco tirou todo método violento
da relação com Deus. No trato com
o próximo, doçura e gentileza foi
sempre o que ele priorizou. Firmeza não exclui
bondade. Francisco de Sales, “de per si era
muito rápido e muito disposto a entrar em
cólera, porém, que tratava todos os
dias de corrigir-se”.
Em seu tempo havia o confronto religioso entre calvinistas
e católicos. Como missionário no Chablais,
optou por bilhetes e cartas postas por debaixo das
portas para dialogar com quem lhe era hostil. Nunca
lhes impôs nada.
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Quis
sempre dialogar. Sua sede episcopal em Genebra estava
ocupada pelos mesmos protestantes. Muitos propuseram
reconquistá-la sob a força da pólvora.
O bispo se recusou afirmando: “Temos que derrubar
a muralha de Genebra com nossas ardentes orações
e assaltá-la com a mútua caridade:
nossas forças de assalto têm que derrubá-la
mediante o amor!”.
Nenhuma
agressão era por ele admitida, mesmo quando
se dizia que o fim seria a paz: “o que não
conseguis pelo amor, não o consigais por
outro meio”, repetia o bispo. No trato com
os subordinados usou sempre de respeito e empatia.
Sabia acolher o diferente e lhe ajudar, se preciso
fosse. Para os de então, era normal rechaçar
as pessoas com alguma deficiência, mas Francisco
acolheu Martinho, jovem surdo, e lhe ensinou uma
linguagem de sinais.
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Seus sermões sempre traziam paz. Falava de
Deus com docilidade e sabia apontar os erros sem
condenar o pecador, buscava explicar sem esgotar
o mistério de Deus, instruía sem impor.
Diplomata, priorizava o bem-estar das pessoas sem
deixar que meios funestos fossem adotados. Muitas
vezes foi ofendido e desrespeitado. Conservava,
no entanto, a nobreza de sua postura evangélica.
Como advogado e bispo fazia valer os direitos dos
mais pobres e frágeis da sociedade, sempre
propondo a revisão de leis e processos quando
as partes menos favorecidas se viam prejudicadas.
Ao
fundar a Ordem da Visitação de Santa
Maria, fez questão de tirar o medo da observância
religiosa. Assim, certa vez escreveu em letras maiúsculas:
“FAZER TUDO POR AMOR E NADA À FORÇA.
AMAR MAIS A OBEDIÊNCIA DO QUE TEMER A DESOBEDIÊNCIA”.
“Mais do que temer a desobediência”
significa que, por medo, as coisas não tem
méritos e, assim, não vale à
pena tê-lo mesmo que seja para obter algo
virtuoso. “Nada à força”
significa, sem violência, sem aquilo que aniquila
a imagem e semelhança de Deus em nós.
Com a Campanha da Fraternidade 2018, São
Francisco de Sales nos motiva a superar a violência:
criando uma cultura da paz através de relações
sociais justas e equitativas, tendo mansidão
para consigo e com o próximo; assumindo uma
espiritualidade forte, mas não violenta;
conhecendo-se e dominando-se para que o melhor de
nós paute nossas relações;
dialogando nas divergências e recusando o
uso de armas para conseguir seus objetivos; educando
o nosso modo de falar e instruir; desnudando de
palavras e expressões agressivas; respeitando
e tendo compaixão para com as realidades
do outro, ainda que não nos sejam agradáveis;
sabendo dar lugar a humildade; acolhendo o diferente;
promovendo o direito de quem é vítima;
não valendo-se do medo para influenciar pessoas
e assumindo o amor de Deus como a força que
supera a violência.
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