E
isto mesmo é o que Deus pede a David, como ouvimos
na primeira Leitura: Deus não deseja uma casa
construída pelo homem, mas quer a fidelidade
à sua Palavra, ao seu desígnio; e é
o próprio Deus que constrói a casa, mas
de pedras vivas marcadas pelo seu Espírito. E
José é «guardião»,
porque sabe ouvir a Deus, deixa-se guiar pela sua vontade
e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensível
com as pessoas que lhe estão confiadas, sabe
ler com realismo os acontecimentos, está atento
àquilo que o rodeia, e toma as decisões
mais sensatas. Nele, queridos amigos, vemos como se
responde à vocação de Deus: com
disponibilidade e prontidão; mas vemos também
qual é o centro da vocação cristã:
Cristo. Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar
os outros, para guardar a criação!
Entretanto a vocação de guardião
não diz respeito apenas a nós, cristãos,
mas tem uma dimensão antecedente, que é
simplesmente humana e diz respeito a todos: é
a de guardar a criação inteira, a beleza
da criação, como se diz no livro de Génesis
e nos mostrou São Francisco de Assis: é
ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente
onde vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente
de todas elas e cada uma, especialmente das crianças,
dos idosos, daqueles que são mais frágeis
e que muitas vezes estão na periferia do nosso
coração. É cuidar uns dos outros
na família: os esposos guardam-se reciprocamente,
depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar
do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões
dos pais. É viver com sinceridade as amizades,
que são um mútuo guardar-se na intimidade,
no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo está
confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade
que nos diz respeito a todos. Sede guardiões
dos dons de Deus!
E quando o homem falha nesta responsabilidade, quando
não cuidamos da criação e dos irmãos,
então encontra lugar a destruição
e o coração fica ressequido. Infelizmente,
em cada época da história, existem «Herodes»
que tramam desígnios de morte, destroem e deturpam
o rosto do homem e da mulher.
Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de
responsabilidade em âmbito económico, político
ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade:
sejamos «guardiões» da criação,
do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões
do outro, do ambiente; não deixemos que sinais
de destruição e morte acompanhem o caminho
deste nosso mundo! Mas, para «guardar»,
devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos
de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida;
então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos
sentimentos, o nosso coração, porque é
dele que saem as boas intenções e as más:
aquelas que edificam e as que destroem. Não devemos
ter medo de bondade, ou mesmo de ternura.A propósito,
deixai-me acrescentar mais uma observação:
cuidar, guardar requer bondade, requer ser praticado
com ternura. Nos Evangelhos, São José
aparece como um homem forte, corajoso, trabalhador,
mas, no seu íntimo, sobressai uma grande ternura,
que não é a virtude dos fracos, antes
pelo contrário denota fortaleza de ânimo
e capacidade de solicitude, de compaixão, de
verdadeira abertura ao outro, de amor. Não devemos
ter medo da bondade, da ternura!
Hoje, juntamente com a festa de São José,
celebramos o início do ministério do novo
Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que inclui também
um poder. É certo que Jesus Cristo deu um poder
a Pedro, mas de que poder se trata? À tríplice
pergunta de Jesus a Pedro sobre o amor, segue-se o tríplice
convite: apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas
ovelhas. Não esqueçamos jamais que o verdadeiro
poder é o serviço, e que o próprio
Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais
naquele serviço que tem o seu vértice
luminoso na Cruz; deve olhar para o serviço humilde,
concreto, rico de fé, de São José
e, como ele, abrir os braços para guardar todo
o Povo de Deus e acolher, com afecto e ternura, a humanidade
inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos,
os mais pequeninos, aqueles que Mateus descreve no Juízo
final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é
estrangeiro, está nu, doente, na prisão
(cf. Mt 25, 31-46). Apenas aqueles que servem com amor
capaz de proteger.
Na segunda Leitura, São Paulo fala de Abraão,
que acreditou «com uma esperança, para
além do que se podia esperar» (Rm 4, 18).
Com uma esperança, para além do que se
podia esperar! Também hoje, perante tantos pedaços
de céu cinzento, há necessidade de ver
a luz da esperança e de darmos nós mesmos
esperança. Guardar a criação, cada
homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor,
é abrir o horizonte da esperança, é
abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é
levar o calor da esperança! E, para o crente,
para nós cristãos, como Abraão,
como São José, a esperança que
levamos tem o horizonte de Deus que nos foi aberto em
Cristo, está fundada sobre a rocha que é
Deus.
Guardar Jesus com Maria, guardar a criação
inteira, guardar toda a pessoa, especialmente a mais
pobre, guardarmo-nos a nós mesmos: eis um serviço
que o Bispo de Roma está chamado a cumprir, mas
para o qual todos nós estamos chamados, fazendo
resplandecer a estrela da esperança: Guardemos
com amor aquilo que Deus nos deu!Peço a intercessão
da Virgem Maria, de São José, de São
Pedro e São Paulo, de São Francisco, para
que o Espírito Santo acompanhe o meu ministério,
e, a todos vós, digo: rezai por mim! Amen. |